“Qualquer coisa que façamos, é necessário ter em mente que, quando testamos e tratamos uma criança pequena, nós também estamos lidando com os pais, seus sonhos por seu filho e, mais além, o que fazemos tem um impacto que transcende tempo e lugar. São as crianças e suas famílias que precisam viver com as conseqüências de nossas ações precoces”.

(Ross Mark, 1992)


Esse Blog é bem recente e estará crescendo aos poucos. Estarei postando alguns tópicos relacionados a fonoaudiologia, suas patologias, tratamentos, materiais, entre outros.
Espero que seja útil tanto para fonoaudiólogos, estudantes e pacientes. E também aceito sugestões de temas em Fonoaudiologia que gostariam de saber mais! Um abraço!

quinta-feira, 10 de julho de 2014

TERAPIA DO PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL


O Fonoaudiólogo (audiologista ou terapeuta da área da linguagem)  é o profissional responsável pela terapia do Processamento Auditivo Central.
A terapia do Processamento Auditivo Central é realizada de forma individualizada, de acordo com os resultados apresentados ao exame e de acordo com as habilidades auditivas prejudicadas e consiste na estimulação intensa dessas habilidades, tendo como base a plasticidade e maturação do Sistema Nervoso Central.

O Fonoaudiólogo deverá inicialmente hierarquizar as habilidades auditivas de acordo com o padrão do desenvolvimento auditivo normal, ou seja: detecção, sensação, discriminação, localização, reconhecimento, compreensão e memória. Devendo trabalhar dentro de cada etapa:

- Detecção: atenção auditiva a um som ou silêncio (atenção focalizada).

- Sensação / Discriminação: características acústicas do som (espectro, amplitude e tempo); detecção de diferenças entre padrões de estímulos sonoros, fazendo com que o sistema auditivo seja capaz de responder às diferenças entre os diferentes sons; análise e síntese auditivas; fechamento auditivo; consciência fonológica; prosódia.

- Localização: discriminação da direção da fonte sonora e interação binaural.

- Reconhecimento: discriminação e reconhecimento de padrões sonoros (freqüência, intensidade e duração).

- Compreensão: reconhecimento e compreensão de sons na presença de ruído ou mensagem competitiva (atenção seletiva - prestar atenção em um estímulo na presença de outros competitivos; figura-fundo - identificar uma mensagem primária, na presença de sons competitivos).

- Integração: integração de informações auditivas com outros canais sensoriais, bem como integração inter-hemisférica (por exemplo, associação auditivo-visual - associação som-símbolo). São trabalhadas também habilidades como integração / separação binaural.

- Memória: além da habilidade de estocar e recuperar estímulos envolve a habilidade para lembrar a duração ou o número de estímulos auditivos e a memória sequencial (discriminação de sons / padrões sonoros em sequência - ordenação temporal).

A atenção (focalizada e seletiva) e a memória permeiam todas as outras habilidades auditivas e, portanto, devem ser constantemente trabalhadas, paralelamente às outras habilidades auditivas.

         A complexidade das tarefas deve ser respeitada, ou seja, iniciar com atividades menos complexas e, à medida que os acertos forem se tornando mais consistentes, as atividades devem se tornar mais difíceis, obedecendo o percentual de acertos fixados. Pode-se ainda manipular a complexidade das tarefas por meio da introdução de sons competitivos (fala, música ou ruído) durante a execução de uma determinada atividade, o que torna a tarefa mais difícil. O nível de apresentação dos sons competitivos também pode ser manipulado, facilitando ou dificultando as atividades.

O principal objetivo da intervenção é o de melhorar as habilidades auditivas e a compreensão da linguagem falada.

O Treinamento auditivo deve possuir quatro etapas interligadas:

- Estimulação das habilidades auditivas alteradas
- Fornecimento de estratégias de compensação;
- Orientações a pais e educadores;
- Melhora do ambiente acústico. 

De acordo com a categorizarão de classificação do distúrbio do processamento auditivo a terapia será específica:

Decodificação: deverá enfatizar o treino das habilidades auditivas de consciência fonológica (análise e síntese) associada à leitura e o treino dos aspectos de discriminação de freqüência, intensidade e duração de sons não- lingüísticos e de sons verbais.

Codificação: deverá enfatizar o treino da compreensão de linguagem na presença de sons competitivos (figura-fundo) e o treino de cada ouvido separadamente. Pode-se pensar na utilização de tampão auricular como estratégia terapêutica.

Organização: treinar predominantemente memória para sons verbais e não- verbais em seqüência.

É fundamental para o sucesso da terapia que as situações propostas:

-    - aumentem a consciência fonológica.
-    - desenvolvam a habilidade do ritmo.
-   - aumentem a capacidade de compreender em situações de escuta difícil.
-   -  aumentem a capacidade de memorizar informações auditivas.
-    - desenvolvam a capacidade de síntese para que haja coordenação entre as habilidades auditivas e outras modalidades sensoriais.
- - minimizem os impactos do distúrbio do processamento auditivo na comunicação, aprendizado e funções sociais.

A família e a escola devem ser orientadas no sentido de que implementem estratégias para melhorar a comunicação,  e para que haja melhora do ambiente acústico e um treinamento auditivo diário.

A Terapia pode ser realizada de duas maneiras

Treinamento Auditivo Formal

No Treinamento Formal um equipamento eletroacústico e/ou programas de computadores são utilizados. O treino realizado em cabina é controlado acusticamente, o que oferece uma estimulação auditiva mais intensa. Geralmente indicado para os casos de Desordens de Processamento Auditivo Central de grau moderado à severo, e para crianças a partir dos 9 anos.

Uma das vantagens do treino em cabina é de que o estimulo acústico, tanto da mensagem como da competição, pode ser controlado quanto ao modo de apresentação (monótico ou dicótico), o tipo de estímulo auditivo (verbal ou não verbal) e a intensidade (relação sinal/ruído). 

A estimulação pode ser maior numa orelha do que na outra em casos de assimetria no desempenho auditivo.

Todo o treino seguirá uma hierarquia de complexidade, iniciando com a facilitação das respostas dos testes para situações mais difíceis como, por exemplo, o aumento do ruído de fundo.

Nesse tipo de treino são realizadas entre 8 a 12 sessões seguidas da reavaliação do PAC.


Treinamento Auditivo Informal

O treinamento informal pode ser realizado tanto pelo fonoaudiólogo em clínica, quanto em casa com os pais ou na escola com os professores, sob orientação, em virtude da não disponibilidade de equipamentos sofisticados.

É desenvolvido com tarefas baseadas em linguagem, empregando estímulos verbais, enfatizando o uso do contexto lingüístico para beneficiar a função auditiva.

Este tipo de treinamento tem potencial mais abrangente no seu impacto, devido ao tipo de técnicas que melhoram, não só as habilidades de linguagem, mas também as auditivas, favorecendo a generalização das habilidades.